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15/01/2024 · 9 min read
Nas circunstâncias econômicas atuais isso é particularmente desafiador, já que as organizações lutam para abordar o impacto da inflação, e mais especificamente o aumento dos custos médicos. Para fazê-lo, os empregadores deverão articular e executar estratégias de otimização de custos bem planejadas, considerar novas formas de promover o bem-estar integral e direcionar um maior foco para as populações vulneráveis, como os funcionários com baixos salários.
Nos últimos anos, a incerteza tem sido a principal preocupação para os especialistas em benefícios. Embora a tendência dos planos médicos (a taxa anual de aumento dos sinistros por pessoa) tenha sido estabilizada desde a pandemia, segue sendo superior aos níveis anteriores à pandemia, de acordo com a pesquisa Health Trends 2024. Ao mesmo tempo, os gerentes de benefícios tentam enfrentar a uma policrise de problemas que afetam o desenho dos planos e programas de bem-estar e benefícios, desde fenômenos climáticos até desinformação e a incerteza econômica atual.
Em decorrência desses desafios econômicos, os funcionários enfrentam muitas dificuldades novas, desde o aumento das taxas de juros até a moradia inacessível. Em resposta, os empregadores tentam se antecipar ao que representa uma inflação significativa para o desenho e o financiamento de seus planos de benefícios e bem-estar para funcionários.
A preocupação do setor é alta: os riscos financeiros e de governança ocupam um lugar de destaque em nossa pesquisa People Risk 2022. Entre os 25 riscos analisados em nosso relatório, três deles figuram entre os 10 primeiros: administração/fiduciário; aumento do custo dos benefícios de saúde, de proteção contra riscos e de bem-estar; tomada de decisões e responsabilidade em matéria de benefícios, políticas e retribuições.
Devido à atual inflação, uma preocupação chave entre os empregadores é se o ambiente atual terá um impacto significativo nos programas de benefícios médicos e segurados.
Embora os custos do empregador com a cobertura médica dos funcionários sejam afetados pela inflação (devido ao aumento dos custos unitários dos serviços e fornecimentos médicos), também se deve considerar outros fatores na hora de calcular e fixar tarifas. Entre eles estão:
· Mudanças na combinação de tratamentos (por exemplo, mudar para tratamentos mais caros, como os novos medicamentos de alto custo para tratar a obesidade e a diabete)
· Alterações na utilização (por exemplo, pessoas que escolhem a assistência médica particular no lugar da pública)
· Aumento das taxas de juros (que costuma aumentar o rendimento dos investimentos das seguradoras e lhes permite compensar parte dos maiores sinistros dos quais são responsáveis)
· Mudanças regulatórias (por exemplo, que os governos prescrevam níveis mínimos de cobertura)
O resultado é que tanto as seguradoras quanto os assessores e os patrocinadores de planos enfrentam muitos desafios quando se trata de antecipar-se à tendência de sinistralidade 2024. Considerando a mão de obra médica escassa, o aumento da compensação seguirá aumentando? A demanda por novos regimes de tratamento aumentará ainda mais as reclamações, ou os novos avanços na área como a assistência médica em casa e a triagem digital fará com que a gestão de doenças seja mais rentável?
Segundo os dados disponíveis publicamente na esfera econômica (não especificamente patrocinados pelo empregador), a inflação dos custos médicos agora é tão acentuada como, ou inclusive supera, a inflação geral em muitos países.
• No Canadá, os preços dos serviços médicos e os cuidados pessoais aumentaram 5,8% entre setembro de 2022 e agosto de 2023, enquanto que o índice de preços ao consumidor (IPC) total aumentou 4,0% nesse período.[1]
• No Reino Unido, os relatórios até agosto mostram um aumento de 8,5% nos preços dos serviços de saúde, enquanto que o IPC é de 6,3%.[2]
• No Brasil, a taxa da inflação do atendimento médico e dos cuidados pessoais foi de 10,1% em julho de 2023, em comparação com o mesmo mês do ano anterior. É a mais alta de todas as categorias registradas.[3]
• Na Índia, a assistência médica experimentou um aumento de 6,4%. Essa cifra é inferior aos aumentos registrados nos outros setores do país, como os combustíveis e a iluminação (10,8%) e os artigos para o lar (7,3%) [4]
Em nossa opinião, é provável que a inflação repercuta nas renovações de 2024 na maioria dos mercados. A sinistralidade e a demografia dos segurados também influenciam muito no aumento dos prêmios dos empregadores.
Devido ao fato de ser muito complexo prognosticar os custos dos planos médicos nos Estados Unidos, é comum que os empregadores estadunidenses finalizem os desenhos dos programas de bem-estar e benefícios do seguinte ano seis meses antes da data de início do plano. Em comparação, os empregadores em alguns países fora dos Estados Unidos finalizam seus desenhos apenas um mês antes. Dada a dinâmica atual, muitas seguradoras estarão relutantes em publicar as condições de renovação com muita antecipação. No entanto, se recomenda aos patrocinadores de planos que adiantem as renovações desenvolvendo estratégias de contenção de custos o mais breve possível e criando planos para administrar as mudanças, especialmente as intrusivas, dentro da organização.
Em nossa opinião, os próximos anos serão desafiadores para aqueles que negociam as taxas de prêmios de seguros médicos. Adicionando à complexidade dessa tarefa a necessidade de equilibrar a relevância de custos com a forte concorrência por habilidades. Na era da pandemia, foi apreciado cada vez mais o papel crítico dos benefícios de saúde e proteção de riscos na proteção dos funcionários e das empresas. Reduzir esses benefícios, por exemplo, aumentando as reivindicações ou o custo compartilhado dos prêmios, poderia desvincular os talentos chave. Com base nisso, os assessores e os patrocinadores de planos devem estabelecer um diálogo inicial para:
· Garantir que as negociações de renovação estejam baseadas em dados e sejam transparentes. Para um processo de renovação eficiente e efetivo, estabeleça um diálogo ativo com os seguradores para estabelecer expectativas. As discussões lideradas pelos corretores devem conter as metodologias de qualificação de prêmios e as suposições utilizadas.
· Confirme os objetivos principais de renovação e considere alterações no desenho do plano antes de solicitar cotações de taxas. Revise os limites e máximos nos planos de seguro de vida, deficiência, acidentes e médicos para assegurar-se de que se mantenham no ritmo da inflação e para verificar que os serviços de saúde sigam sendo acessíveis. Também se recomenda uma revisão similar de alavancas de custos como as franquias, que também podem sofrer desvalorização devido à inflação.
· Explore opções de financiamento alternativas. Pode valer a pena implementá-las se os prêmios propostos pelos seguradores e o mercado são inerentemente conservadores. Por exemplo, os empregadores poderiam considerar acordos de distribuição de excedentes ou ajustes de prêmios na metade do ano.
Nossa pesquisa sobre Tendências Globais de Talentos mostra que um terço dos funcionários abriria mão de um aumento salarial em troca de benefícios adicionais de saúde e bem-estar para si mesmos ou suas famílias. Isso levanta várias possibilidades e questões: Como empregador, você pode superar a inflação com uma proposta de valor abrangente e convincente para os funcionários? Se sua organização está enfrentando uma escassez de mão de obra a longo prazo, será que é sustentável continuar aumentando os salários ano após ano, ou seria melhor direcionar uma parte desses gastos para benefícios de saúde e bem-estar que o posicionem como um empregador preocupado?
Empregadores preocupados com as implicações futuras da inflação nos planos médicos de benefícios definidos têm uma oportunidade única de pensar e agir de forma criativa. Uma abordagem chave é usar a técnica comum de controle de inflação da substituição de produtos. Especialmente no caso de novos tipos de benefícios, como os benefícios de bem-estar esperados pela força de trabalho atual, existem oportunidades para priorizar opções menos expostas à inflação (em comparação com os planos tradicionais de seguro médico). Essas opções incluem: contas de gastos de saúde e bem-estar de contribuição definida, créditos para a compra de cuidados preventivos ou suportes de estilo de vida, e suportes para melhorar a saúde financeira e mental.
Outra consideração importante é garantir que os planos ofereçam flexibilidade suficiente e que apresentem contribuições acessíveis para os funcionários. Isso é especialmente importante à medida que os empregadores começam a considerar a expansão da elegibilidade do plano para grupos de funcionários que normalmente não são cobertos por planos médicos, como funcionários em meio período, contratados e de baixa remuneração.
Durante períodos de alta inflação, alguns dos maiores medos enfrentados pelos funcionários são a erosão da renda e da riqueza e a perda de benefícios. Essas preocupações têm um impacto maior nos trabalhadores de baixa renda. Isso ocorre porque seus ajustes salariais geralmente estão abaixo da inflação, e seus maiores aumentos de despesas são para bens essenciais, como energia e alimentos. Além disso, eles têm acesso limitado a crédito e investimentos de alto rendimento que poderiam limitar o impacto da inflação em seu poder de compra. Em 1990, a hiperinflação no Brasil atingiu mais de 2.500% no ano. Os produtos desapareceram rapidamente das prateleiras, pois a população, temendo a escassez e os preços mais altos, estocou alimentos e outros produtos domésticos. As empresas estavam reajustando os preços dos produtos diariamente. O poder de compra daqueles que não eram bem-sucedidos evaporou quase da noite para o dia. No entanto, o setor mais rico da sociedade tinha acesso a veículos de investimento para proteger sua riqueza. As desigualdades aumentaram, com algumas pessoas ricas até mesmo comprando refrigeradores adicionais para armazenar os alimentos extras que haviam comprado. Esse período extraordinário demonstra claramente que os mais vulneráveis são os mais afetados pela inflação.
Especialistas em benefícios que buscam posicionar sua organização como empregadores responsáveis podem aprender com lugares como o Brasil, que enfrentaram altos níveis de inflação no passado. Eles devem trabalhar para "inverter a pirâmide" e garantir que as pessoas que mais precisam de benefícios possam acessá-los por meio de mecanismos como menores co-seguros.
Já há motivos significativos de preocupação: nossa pesquisa mais recente sobre Saúde sob Demanda mostra que 22% da força de trabalho global (incluindo 26% das mulheres) não têm confiança de que podem pagar pelos cuidados de saúde de que suas famílias precisam, e 56% dos funcionários estão extremamente ou muito preocupados com o impacto das crises econômicas sobre eles ou suas famílias.
Mesmo antes que as pressões inflacionárias estivessem presentes, os empregadores estavam no processo de reajustar os benefícios para torná-los mais relevantes e administrar o risco das pessoas de maneira mais efetiva. À medida que as empresas enfrentaram os efeitos contínuos da pandemia, surgiram vários desenvolvimentos positivos. Estes incluem avanços no acesso digital aos benefícios de saúde, o desejo de resolver as desigualdades na saúde e benefícios, e a aceitação de um caso empresarial mais amplo para o investimento no apoio aos funcionários.
[1] Statistics Canada. “Latest Snapshot of the CPI, August 2023,” Herramienta de visualización de datos del Índice de Precios al Consumidor. Link.
[2] Oficina de Estadística Nacional. "Consumer price inflation, UK: August 2023." Link.
[3] Statista. “Inflation Rate of Brazil in July 2023, by Sector.” Link.
[4] Gobierno de la India, Ministerio de Estadísticas y Ejecución de Programas, Oficina Estadística Nacional. "Consumer Price Index Numbers on Base 2012=100 for Rural, Urban and Combined for the Month of July 2023." Link.
[5] “Brazil Inflation Calculator: World Bank Data, 1980–2023 (BRL).” Datos oficiales sobre inflación, Alioth Finance, 13 de septiembre de 2023, disponible en https://www.officialdata.org/brazil/inflation. Link.
Managing Director, Latin America and the Caribbean, Mercer Marsh Benefits
Global Advice and Solution Leader, Mercer Marsh Benefits
Healthcare and Life Insurance Leader, UK, Mercer Marsh Benefits